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Dez teorias conspiratórias da era da internet
07 fevereiro 2013
Os 7 locais mais perigosos da Terra
Fontes: YouTube | Vsauce / G1 via Ráisa Guerra (www.megacurioso.com.br)
Os 12 tanques de guerra mais estranhos da História
07 outubro 2011
10 mulheres aventureiras com histórias incríveis
Quando nós pensamos em aventureiros e exploradores, é comum imaginar homens sujos, misteriosos e de barba em busca de novas terras ou excitação. No entanto, a história está repleta de mulheres que contrariaram a tendência de ficar em casa e saíram em busca de aventuras.
Conheça dez mulheres que viajaram o mundo e levaram uma vida aventurosa porque queriam expandir seus horizontes, ganhar dinheiro, ou simplesmente porque o tédio não era seu estilo:
1 – Lady Hester Stanhope, 1776-1839
Lady Hester nasceu no coração de um estabelecimento inglês, filha do Conde Stanhope Terceiro e sobrinha do futuro primeiro-ministro Pitt, o Jovem.
Lady Hester manifestou seu lado aventureiro no início da vida, quando tentou remar um pequeno barco para a França, que logo foi recapturado. Uma senhora ativa e uma inteligente jovem, ela foi escolhida para atuar como anfitriã do primeiro-ministro em eventos oficiais e, mais tarde, serviu como sua secretária.
Após sua morte, ela foi premiada com uma pensão substancial da nação pelo seu serviço. Foi esse dinheiro que lhe deu a liberdade de viajar. Ela partiu para Atenas, onde Lord Byron a recebeu, com um plano de enviá-la a Paris para espionar Napoleão.
Diplomatas britânicos logo acabaram com isso e Lady Hester partiu para o Egito. Quando seu navio lá chegou, ela passou a usar roupas masculinas, um hábito que assumiu a partir desse momento. Mais tarde, Lady Hester explorou o Oriente Médio. Ela se reuniu com o governante do Egito, tratou bandidos, visitou locais bíblicos, e, com tanta hospitalidade árabe, começou a acreditar-se uma rainha para os moradores.
Lady Hester foi a primeira europeia a visitar várias cidades e foi recebida calorosamente por seus governantes. Na cidade em ruínas de Palmira, Lady Hester imaginava que tinha sido coroada rainha do deserto, e nunca perdeu essa crença. Ela passou seus últimos anos em um palácio nas montanhas do Líbano.
Peck alcançou sucesso acadêmico na casa dos vinte anos, conforme se graduou em filologia e mostrou uma aptidão especial para o grego antigo. Isto a levou a tornar-se uma das primeiras professoras da América do Norte.
Peck passou um tempo estudando arqueologia na Grécia, a primeira mulher a fazer isso. Ela parecia feliz com sua carreira acadêmica, no entanto, quando tinha 44 anos, começou a praticar alpinismo na Europa, tornando-se a terceira mulher a escalar o Matterhorn.
Retornando para a América, ela passou um tempo escalando na América do Sul, procurando especificamente a montanha mais alta do Novo Mundo. Peck equivocadamente pensou que tinha a encontrado quando se tornou a primeira pessoa a escalar o monte Huascarán. O pico mais tarde foi renomeado em sua honra. Ela escreveu e dissertou longamente sobre suas aventuras e continuou a escalar até a velhice. Em 1909, quando escalou o Monte Coropuna no Peru, plantou uma bandeira no cume onde se lê “Votos para mulheres”.
Gudridur (ou Guðríður) nasceu por volta de 980 d.C. na Islândia, e a sua história de vida vem de grandes sagas islandesas.
Ela percorreu uma distância muito maior do que a maioria das pessoas da época. Gudridur foi levada por seu pai para a colônia da Groenlândia fundada por Erik, o Vermelho, e se casou com Thorstein, filho de Erik.
Junto com seu marido, foi a oeste até um lugar chamado Vinland, agora conhecido como América do Norte, para recuperar o corpo do irmão de Thorstein. Infelizmente, esta expedição foi um fracasso e na viagem de regresso, Thorstein morreu.
Na Groelândia, ela se casou novamente. Com seu novo marido Thorfinnr, ela fez outra tentativa de colonizar Vinland. Os dois anos que essa colônia no Novo Mundo durou estão documentados na Saga da Groelândia.
Gudridur deu à luz ao primeiro filho europeu no Novo Mundo, Snorri. A saga da Groelândia fala de pessoas estranhas, que os colonos chamam de Skraelings, indígenas da área. No início, os nórdicos negociaram com os Skraelings, mas depois ocorreu uma luta que os nórdicos venceram.
Com medo de um ataque maior, os nórdicos se retiraram para a Groelândia. Em algum ponto, Gudridur se converteu ao cristianismo, juntamente com o resto dos nórdicos. Quando seu marido morreu, Gudridur decidiu peregrinar a Roma, onde conheceu o Papa e contou-lhe suas aventuras. Regressando à Groelândia, ela se tornou uma freira e viveu o resto de sua vida como uma eremita.
Harriet Adams herdou seu amor pela vida ao ar livre de seu pai que, sem filhos, a levava para andar de cavalo e caminhar em montanhas.
Aos 14 anos, ela acompanhou seu pai em uma viagem de um ano a cavalo através da fronteira mexicana. Quando se casou com Frank Adams, o casal decidiu não viajar em lua de mel até que pudessem se dar ao luxo de viajar para algum lugar excitante.
Frank, um engenheiro, aceitou um trabalho no México e os dois transformaram isso em uma lua de mel prolongada. Harriet visitou todas as ruínas dos Astecas e Maias, muitas só recentemente descobertas nas florestas.
Harriet ficou encantada com a América Latina e encorajou Franklin a assumir um cargo em uma empresa de mineração, o que permitiria que eles viajassem pela América do Sul. Querendo documentar suas viagens, Harriet aprendeu a tirar fotografias. Suas fotos maravilhosas e sua capacidade de encantar o público a tornou uma das exploradoras mais importantes de sua época.
Ela escrevia muitos artigos para revistas e dava uma série de palestras. Ela é mais conhecida por suas explorações na América do Sul, mas também visitou a Ásia e, na eclosão da Primeira Guerra Mundial, tornou-se uma correspondente de guerra. Como a Sociedade de Geografia não permitia que mulheres fossem membros de pleno direito, ela ajudou a fundar e serviu como primeira presidente da Sociedade de Geógrafas.
Em seu obituário, Freya Stark foi chamada de “a última das viajantes românticas”. Esta reputação tem cimentado sua posição como uma das melhores escritoras de viagens em inglês, e revelado sua longa vida de muita aventura.
Sua infância foi vivida na Itália, embora confinada por doenças por longos períodos. Após um acidente onde seu cabelo ficou preso em máquinas, ela precisou de meses de enxertos de pele, que a mantiveram no hospital. Stark passou seu tempo lendo e ensinando-se latim.
Sua vida de viajante começou no final de 1920. Seu segundo livro, Os Vales dos Assassinos, conta como Freya Stark se tornou a primeira mulher europeia a entrar no Irã. Nas montanhas, ela mapeou a área para os ocidentais pela primeira vez, e viu castelos em ruínas dos Assassinos. Retornando desta aventura, ela publicou o primeiro de quase trinta livros sobre viagens que ainda são lidos até hoje.
Seu conhecimento do Oriente Médio e de línguas foi bem utilizado no combate ao fascismo na Segunda Guerra Mundial. No Egito, ela fundou um grupo pró-democracia para combater a propaganda fascista, disseminada por agentes alemães. Após a guerra, ela continuou suas viagens e escritos até o final de sua vida.
Nellie Bly nasceu Elizabeth Cochran. Suas aventuras surgiram devido a seu trabalho para o jornal New York World.
O primeiro artigo de Bly foi sobre um asilo de mulheres lunáticas. Fingindo ser demente, Bly foi admitida e conviveu com pacientes confinados numa ilha. A comida era rançosa e as enfermeiras brutais. O artigo que ela escreveu foi um avanço no jornalismo investigativo e levou a reforma de hospitais psiquiátricos.
Sua próxima aventura foi uma das que lhe trouxeram fama mundial. Bly empreendeu-se em um desafio de fazer uma viagem ao redor do mundo em um tempo mais rápido do que os 80 dias de Phileas Fogg.
Ela saiu com um passaporte especial assinado pelo Secretário de Estado em 14 de novembro de 1889. Sua viagem começou com enjoo, mas terminou em triunfo. Na França, ela conheceu Jules Verne, que achava que ela poderia gerenciar a viagem em 79 dias, mas nunca em 75, que era o que ela esperava. Através dos mares, ela atravessou o Canal de Suez, visitou uma colônia de leprosos chineses e comprou um macaco, conseguindo voltar a Nova York em um tempo de 72 dias, 6 horas e 11 minutos.
Nascida na riqueza, Louise Boyd usou sua grande herança para explorar as regiões árticas que ela tanto amava.
Boyd seria a primeira mulher a chegar ao Polo Norte, no conforto relativo de um avião, em 1955. Viajando pela Europa depois da morte de seus pais em 1920, ela passou algum tempo em Spitsbergen, onde achou o gelo sedutor. Sua primeira exploração do Ártico foi em 1926, quando ela passou um tempo filmando e fotografando o ambiente.
Foi a sua caça de ursos polares nessa viagem que lhe valeu a alcunha de “Diana do Ártico”. Sua exploração mais famosa foi ajudar na caçada ao reconhecido explorador Roald Amundsen, que tinha desaparecido. Seu avião cobriu mais de 16 mil quilômetros na busca, mas Amundsen nunca foi encontrado.
Por seus esforços, Boyd tornou-se a primeira mulher não norueguesa a ser condecorada com a Cruz de Cavaleiro da Ordem de Santo Olavo pelo rei Haakon VII. Ela voltou para os EUA e liderou cinco expedições a Groelândia pelas quais foi homenageada pela Sociedade de Geografia. Uma área da Groelândia foi nomeada terra de Louise Boyd em sua homenagem.
A Idade de Ouro da aventura para as mulheres pode parecer ter passado, mas ainda há um grande mundo lá fora para elas.
Kira é uma escritora e aventureira profissional. Após graduar-se em literatura e escrita de viagem, ela atravessou Papua Nova Guiné. Esta experiência se transformou em seu livro “Four Corners” (Quatro Cantos). Desde então, ela tem escrito numerosos artigos e visitado o Peru, Irã, Butão, Mali, Líbia e Birmânia, entre outros lugares.
Talvez sua exploração mais ousada tenha sido no Congo, no rastro de gorilas da montanha. Salak foi contrabandeada para o país por ucranianos. Seu artigo premiado sobre a viagem dá uma visão clara de um país com muitos problemas humanos.
Na cidade de Bunia, Salak encontrou-se com algumas das crianças-soldados das milícias locais. Não há nenhum charme das aventureiras britânicas vitorianas em sua escrita. As viagens chocantes de Salak revelam um mundo que nós, vivendo em uma era de “aventuras” fáceis, não conhecemos.
Mary Kingsley nunca foi formalmente educada, mas ajudava seu pai viajante em suas pesquisas. Seu pai a colocou para trabalhar fazendo anotações para seu estudo comparativo de religião, e quando ele morreu, este foi deixado inacabado.
Sem qualquer direção, mas com uma herança na mão, Kingsley decidiu continuar o trabalho de seu pai, estudando as religiões da África Ocidental. Quando ela pediu a especialistas noções de onde ela deveria viajar, lhe aconselharam a não ir, mas se ela fosse, que trouxesse de volta amostras biológicas.
Então, ela partiu com uma pequena quantidade de bagagem, coletando amostras por onde passava, e com um livro de frases úteis para tentar se comunicar.
Kingsley fez duas viagens para a África Ocidental e as descreveu no livro “Viagens na África”. Ela trouxe amostras de flora e fauna para a Inglaterra, e três espécies de peixes foram nomeadas em sua honra.
Mas a real importância de suas viagens foi em difundir uma visão um pouco mais esclarecida da África do que a que existia na época. Segundo ela contou, os nativos não eram selvagens esperando para serem trazidos para os padrões europeus, mas tinham mentes independentes e culturas próprias. Ela morreu na África do Sul de febre tifoide, enquanto tratava os feridos na da Segunda Guerra dos Bôeres.
Gertrude Bell foi muitas coisas em sua vida, mas é mais lembrada hoje por seu papel na formação da nação do Iraque após a Primeira Guerra Mundial.
Bell tem muitas estreias ateadas ao seu nome: ela foi a primeira mulher a receber um diploma de primeira classe em História pela Oxford e a primeira mulher a escrever um artigo para o governo britânico. Ela viajou ao redor do mundo duas vezes.
Uma vez, enquanto praticava alpinismo na Suíça, pegou uma nevasca e passou dois dias pendurada em uma corda.
A verdadeira vocação de Bell veio quando ela viajou para Teerã para visitar seu tio. No Oriente Médio, ela aprendeu sozinha as línguas locais e estudou arqueologia. Muitos arqueólogos do Oriente Médio na época também serviam como agentes de inteligência, como T.E. Lawrence, que ela conheceu em uma escavação.
Em 1915, ela trabalhou com Lawrence novamente no Cairo. O conhecimento de Bell do Oriente Médio foi usado para ajudar os movimentos do exército britânico durante guerras. Quando ela foi para Basra, fez contatos com muitos locais importantes.
Também conheceu os futuros reis Abdullah e Faisal.
Na conferência pós-guerra sobre o mandato britânico no Oriente Médio, Bell empenhou-se em conquistar um governo autossuficiente e ajudou a aconselhar o rei Faisal.
Ela foi enterrada em Bagdá, a capital de um país que ajudou a criar.
Fonte: Listverse via hypescience.com
27 julho 2010
Lançamento do livro "Lendas Urbanas"

O homem do saco, A mulher do táxi, A gangue do palhaço são histórias verdadeiras ou não passam de ficção? Polêmicas à parte, o fato é que qualquer um já foi tomado ou pela curiosidade ou pelo medo ao ouvir uma lenda urbana. Repletas de mistério, suspense e ação, essas histórias fazem qualquer um viajar em um universo paralelo e sobrenatural.
No livro Lendas urbanas, lançamento da Editora Planeta para a Bienal do Livro de São Paulo, Jorge Tadeu, famoso pelo quadro Lendas Urbanas do programa Domingo Legal no SBT, reúne as 10 das melhores lendas apresentadas na TV.
Ele narra essas conhecidas histórias que passam de boca em boca, com riqueza de detalhes e ilustrações assustadoras, capazes de instigar até mais céticos. Agora, essas lendas que têm passado de geração a geração e habitam o imaginário popular podem ser guardadas e lidas a qualquer hora. Ideal para assustar os amigos e família com criatividade e bom humor.
Começou a divulgação e venda do Livro 'Lendas Urbanas':
http://www1.folha.uol.com.br/folha/livrariadafolha/768946-livro-seleciona-lendas-urbanas-como-a-loira-do-banheiro-e-a-gangue-do-palhaco.shtml
11 agosto 2009
Universal é acusada de lavar dinheiro
Edir Macedo e mais 9 são réus em processo por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro; defesa diz que igreja é perseguida
Dados do Coaf apontam que as transferências atípicas e os depósitos bancários em espécie da igreja somaram R$ 8 bilhões de 2001 a 2008
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
A Justiça recebeu ontem denúncia do Ministério Público de São Paulo e abriu ação criminal contra Edir Macedo e outros nove integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus sob a acusação de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
A denúncia, aceita pelo juiz Glaucio Roberto Brittes, da 9ª Vara Criminal de São Paulo, resulta da mais ampla apuração sobre a movimentação financeira da igreja já feita em seus 32 anos de existência.
Iniciada em 2007 pelo Ministério Público de São Paulo, a investigação quebrou os sigilos bancário e fiscal da Universal e levantou o patrimônio acumulado por seus membros com dinheiro dos fiéis, entre 1999 e 2009 -embora não paguem tributos, igrejas são obrigadas a declarar doações que recebem.
Segundo dados da Receita Federal, a Universal arrecada cerca de R$ 1,4 bilhão por ano em dízimos. As receitas da igreja superam as de companhias listadas em Bolsa -e que pagam impostos-, como a construtora MRV (R$ 1,1 bilhão), a Inepar (R$ 1,02 bilhão) e a Saraiva (R$ 1,09 bilhão).
Somando-se as transferências atípicas e os depósitos bancários em espécie feitos por pessoas ligadas à Universal, o volume financeiro da igreja no período de março de 2001 a março de 2008 foi de cerca de R$ 8 bilhões, segundo informações do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão do Ministério da Fazenda que combate a lavagem de dinheiro.
A movimentação suspeita da Universal somou R$ 4 bilhões de 2003 a 2008.
A denúncia foi assinada pelos promotores Everton Luiz Zanella, Fernanda Narezi, Luiz Henrique Cardoso Dal Poz e Roberto Porto.
Reportagem da Folha publicada em dezembro de 2007 revelava o patrimônio da Igreja Universal do Reino de Deus acumulado em mais de 30 anos -o que incluía um conglomerado empresarial em torno dela. Após a publicação, fiéis da igreja entraram com ações por dano moral contra o jornal, no país todo (leia texto abaixo).
O xis do problema, para os promotores, não reside na quantia de dinheiro arrecadado, mas no destino e no uso que lhe foi dado pelos líderes da igreja no período investigado. Um grande volume de recursos teria saído do país por meio de empresas e contas de fachada, abertas por membros da igreja, e foi depois repatriado também por empresas de fachada, para contas de pessoas físicas ligadas à Universal.
Os recursos teriam servido para comprar emissoras de TV e rádio, financeiras, agência de turismo e jatinhos.
Para a investigação, isso fere dois princípios legais.
Empresas privadas pagam impostos porque o propósito de suas existências é o lucro. Igrejas, pela lei brasileira, não pagam tributos porque suas receitas, em tese, revertem para o exercício da fé religiosa, protegida pela Constituição.
Quando o dinheiro oriundo da fé é desviado para comprar e/ou viabilizar empresas tradicionais, que têm o lucro como finalidade, a imunidade tributária está sendo burlada.
O outro problema, com base na denúncia, diz respeito ao direito dos fiéis da Universal a que os recursos revertam para a igreja. O uso de recursos para outras atividades seria um desvio de finalidade, do qual fiéis e a Universal seriam vítimas.
Depósitos atípicos
Segundo o Ministério Público de São Paulo, os recursos da Universal eram transportados em jatinhos e foram depositados em contas definidas pelos bispos, principalmente no Banco do Brasil e no Banco Rural.
Duas empresas que seriam de fachada recebiam o grosso dos depósitos, segundo a denúncia -a Unimetro Empreendimentos S/A e a Cremo Empreendimentos S/A.
"As empresas Unimetro e Cremo não apresentaram qualquer movimentação que indicasse atividade de comércio. De fato, trata-se de empresas de fachada", relata a denúncia. As duas empresas encontram-se instaladas no mesmo endereço, que também consta como sede da Clínica Santo Espírito. Nenhuma apresenta qualquer indício de atividade comercial, dizem os promotores.
Entre janeiro de 2004 e dezembro de 2005, a Unimetro recebeu em duas contas, no Banco do Brasil e no Banco Rural, um total de R$ 19,2 milhões. Em sua grande maioria, a movimentação foi proveniente de transferências eletrônicas.
A empresa Cremo, no mesmo período, totalizou R$ 52,1 milhões em créditos em três contas, no Banco do Brasil, Banco Rural e Banco Safra.
As duas empresas remetiam os recursos, por sua vez, às companhias Investholding Limited e Cableinvest Limited, localizadas em paraísos fiscais (ilhas Cayman e ilhas do Canal, respectivamente).
O dinheiro retornava ao país em forma de contratos de empréstimos a laranjas, usados para justificar a aquisição de empresas e imóveis ligados à Universal, segundo a denúncia.
Descreve o texto da promotoria: "Podemos citar como exemplo a compra da TV Record do Rio de Janeiro. A empresa foi adquirida em nome de seis membros da Igreja Universal do Reino de Deus, que justificaram a origem da transação (avaliada em US$ 20 milhões) através de empréstimos junto às empresas Investholding e Cableinvest". Outro exemplo usado na denúncia é o da TV Itajaí, também comprada com recursos oriundos da Cremo.
As remessas de dinheiro da Investholding foram feitas de agências do Banco Holandês Unido, em Miami e Nova York.
As remessas da Cableinvest teriam se dado de forma distinta. Os dólares foram levados até a Cambio Val, uma das maiores casas de câmbio do Uruguai, e trocados por moeda brasileira.
Em 1992, a Investholding remeteu ao menos US$ 6 milhões para o Brasil. De 1992 a 1994, a Cableinvest trocou US$ 11,96 milhões por moeda nacional na casa de câmbio Val, no Uruguai. A origem de todo esse dinheiro foram os dízimos dos fiéis, sustenta a denúncia.
Doações originaram patrimônio, diz acusação
A denúncia feita pelo Ministério Público de São Paulo levantou o patrimônio construído pela Igreja Universal em seus 32 anos de existência.
Ele seria composto por 23 emissoras de TV e 42 emissoras de rádio, quatro firmas de participações, uma agência de turismo, uma imobiliária, uma empresa de seguro de saúde, duas gráficas, uma gravadora, uma produtora de vídeos, uma construtora, uma fábrica de móveis e duas financeiras.
A igreja teria ainda uma empresa de táxi aéreo de nome Alliance Jet, que possui três aviões, um deles adquirido em 2007 por US$ 28 milhões.
A descrição feita pela denúncia confirma a existência do conglomerado empresarial em torno da Universal descrito em reportagem publicada pela Folha em dezembro de 2007.
Segundo a denúncia, há indícios de que a maior parte dos recursos usados para comprar o patrimônio da Record teve como origem doações de fiéis.
Diz a denúncia: "Aproveitando-se da imunidade tributária estabelecida pela Constituição Federal aos templos de qualquer culto, os denunciados passaram a utilizar-se da Igreja Universal do Reino de Deus em benefício próprio, captando os valores dos dízimos, ofertas e contribuições dos membros da igreja e fiéis... e investem em bens particulares, como imóveis, veículos ou joias".
Ocultação
Edir Macedo e os outros dez denunciados também são acusados pelo Ministério Público de São Paulo de falsificação de documentos e de se utilizarem de laranjas para ocultar a titularidade de seus bens.
A denúncia traz o depoimento de Marcelo Nascente Pires, ex-bispo de confiança de Edir Macedo, que, a pedido do líder da Universal, comprara ações da TV Itajaí, emissora da Rede Record em Santa Catarina.
Relata a denúncia que, após Pires romper com a Universal, uma falsa procuração em seu nome foi apresentada na Junta Comercial de Santa Catarina. Nela, Pires supostamente transferia todos os poderes para Edir Macedo.
"Através de exame pericial, foi constatado que os dados estampados entre as 15ª e 18ª linhas do instrumento procuratório foram inseridos em segunda assentada, sendo que os dados incluídos possuíam conteúdo diverso do que deveria ser escrito", diz a denúncia.
"Como resultado da operação criminosa, em 27 de novembro de 2001 foram promovidas as alterações no contrato social da empresa TV Vale do Itajaí Ltda., resultando na exclusão de Marcelo Nascente Pires e na inclusão de Honorilton Gonçalves da Costa."
De acordo com a denúncia, há indícios de que algo semelhante teria ocorrido com outras empresas ligadas à Igreja Universal.
"Há nos autos cópia de contrato particular de cessão de direitos celebrado por Odenir Laprovita Vieira e Edir Macedo, em que Laprovita transfere em caráter irrevogável e irretratável a Edir Macedo todas as ações da Rádio e TV Record S.A. (São Paulo), TV Record de Franca S.A. e TV Record de Rio Preto S.A. O contrato apresenta data em branco e encontra-se assinado tão somente pelo cedente."
Réus atuaram em outras empresas ligadas ao grupo
Além de Edir Macedo, líder da Igreja Universal e dono da TV Record, há outros nove réus no processo criminal aberto na 9ª Vara Criminal em São Paulo por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
Todos, segundo o Ministério Público, contribuíram de forma decisiva para a lavagem de dinheiro dos fiéis da Universal ao "exerceram funções de comando em empresas ligadas ao grupo criminoso, em especial nas empresas Unimetro Empreendimentos S/A e Cremo Empreendimentos S/A".
Entre eles está Honorilton Gonçalves, vice-presidente da área artística da Record e presidente de fato da emissora. Bispo licenciado da Igreja Universal, Gonçalves foi diretor da Unimetro Empreendimentos S/A entre 1998 e 1999.
Outro réu é o ex-deputado federal João Batista Ramos da Silva, que dirigiu a Cremo Empreendimentos. Silva foi detido em 2005, no Aeroporto de Brasília, momentos antes de embarcar em um jatinho particular, transportando sete malas com aproximadamente R$ 10 milhões, em uma aeronave Citation X, da Universal.
O atual diretor da Cremo, Veríssimo de Jesus, e os ex-diretores Alba Maria da Costa, Edilson da Conceição Gonzales, João Luiz Dutra Leite e Maurício Albuquerque e Silva também são réus. Assim como o atual diretor da Unimetro Empreendimentos, Jerônimo Alves Ferreira, e o ex-diretor Osvaldo Sciorilli.
Todos foram convocados para prestar depoimento à polícia de São Paulo, onde foram defendidos pelo advogado Arthur Lavigne. Macedo não compareceu, alegando motivos pessoais.
Em 1999, a Folha já revelara a existência de empresas da Universal em paraísos fiscais.
À época, Investholding e a Cableinvest já eram representadas no Brasil por Alba Maria Silva da Costa e Osvaldo Sciorilli, então executivos da Universal em São Paulo.
Entre os demais sócios da Unimetro estavam os bispos Honorilton Gonçalves, João Batista Ramos (então presidente da Rede Família e da Rede Mulher), Marcelo Crivella (hoje senador) e Sérgio Von Helde -que ficou famoso por ter chutado a imagem de Nossa Senhora Aparecida na TV.
Receita fiscalizou e aprovou contas de empresas, diz defesa
As empresas apontadas pelo Ministério Público como fachada para a movimentação do dinheiro pago por fiéis como dízimo já foram fiscalizadas pela Receita Federal e tiveram suas contas aprovadas.
É o que afirma Arthur Lavigne, advogado dos dez líderes da Igreja Universal do Reino de Deus que foram denunciados pelo Ministério Público de São Paulo por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
Lavigne apresentou à Folha um "Termo de Encerramento de Fiscalização" da Receita Federal em que está descrita a movimentação, referente ao ano de 2005, de quatro contas da Cremo Empreendimentos S/A nos bancos do Brasil, Safra, Rural e Bradesco.
O documento é assinado pela auditora Lana Torres de Santana.
Sua conclusão é a de que "foi comprovada a origem dos recursos depositados em conta corrente". O documento descreve 22 movimentações financeiras que atingem, somadas, o valor de R$ 9.098.995,60.
De acordo com o Ministério Público, a Cremo foi uma das empresas que receberam depósitos tendo como origem o pagamento de dízimo de fiéis da igreja. A descrição feita pela Receita refere-se, na maioria das vezes, a valores recebidos por amortização de empréstimos (contratos de mútuo). A maior parte desse valor, diz a auditora, comprovado com cópia de recibo de valores recebidos e contratos.
Há ainda registro de transferência de cotas da Rádio Cultura Gravataí, por R$ 21.249,99.
Questionado se tinha o mesmo documento referente à Unimetro Empreendimentos S/A (também usada de forma irregular, segundo a Promotoria), Lavigne diz que a fiscalização havia sido feita,mas não tinha o termo em mãos.
Lavigne e a advogada Fernanda Telles afirmaram que não sabem qual tipo de atividade é desempenhada pelas duas empresas. Disseram que não precisam desta informação porque a defesa se baseia apenas em informações contábeis.
Ele criticou o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão do Ministério da Fazenda que combate a lavagem de dinheiro, por desconfiar de movimentação fiscalizada pela Receita Federal.
"A bagunça é tão grande que o Coaf, um órgão da Receita Federal [na realidade é do Ministério da Fazenda], diz que a empresa é fantasma e levanta as suspeitas. Mas a Receita faz fiscalização lá dentro da empresa e diz que há absoluta legalidade no funcionamento da empresa", disse Lavigne.
Ele negou que os bispos tenham sido usados como laranjas na compra das empresas.
"Quando foram compradas essas empresas, houve um empréstimo do exterior, comprovado, para a aquisição dessas empresas. Aquilo foi sendo pago paulatinamente. A remessa para o exterior é toda oficial, comprovada. A Receita tem conhecimento disso", afirmou.
Para o advogado, a nova denúncia do Ministério Público é "assunto requentado", por se referirem às mesmas empresas investigadas no inquérito arquivado pelo Supremo Tribunal Federal em 2006. Lavigne afirmou que a igreja e seus membros são alvo de perseguição por parte do Ministério Publico de São Paulo.
"A Receita Federal, a Procuradoria da República e o STF têm pleno conhecimento das empresas. São muitos inquéritos instaurados, mas todos arquivados. Nunca houve uma condenação."
Ele atribuiu à Promotoria o vazamento de informações à imprensa e criticou a Folha: "Volta e meia o Ministério Público convoca a Folha para dizer o que descobriu. Mas republicamos mesmos contratos de mútuo [empréstimos]".
Folha foi alvo de 107 ações de fiéis da igreja
Em 15 de dezembro de 2007, a Folha publicou a reportagem "Universal chega aos 30 anos com império empresarial", que descrevia o conglomerado de empresas da Igreja Universal do Reino de Deus. Com essa reportagem, a jornalista Elvira Lobato ganhou, no ano seguinte, o Prêmio Esso.
Após a publicação, fiéis da Igreja Universal de vários municípios do país entraram com 107 ações judiciais contra a jornalista e a Empresa Folha da Manhã, que edita a Folha, pedindo indenização por danos morais, alegando que se sentiram ofendidos com a reportagem, embora nenhum deles tenha sido citado. Todas as 84 ações julgadas até agora tiveram sentenças favoráveis à Folha. Restam 23 ações pendentes.
Fonte: jornal Folha de S.Paulo
29 junho 2009
Hora de fazer a faxina

O Senado Federal tem em seus quadros motoristas, ascensoristas e seguranças com salários superiores ao do presidente da República. Apesar da crise que abalou o mundo, lá não existem vestígios de desemprego. Mesmo com mais de 8 000 funcionários, há sempre uma vaga disponível para um parente, amigo ou correligionário dos parlamentares. O Senado também é invejado pelo tratamento que dá a seus servidores. Sua direção tem carta branca para aumentar os próprios vencimentos e se conceder privilégios, como promoções, plano de saúde vitalício e pagamento de horas extras, inclusive para quem não trabalha. E o mais impressionante: tudo pode ser feito na surdina, completamente às escondidas, de modo a manter as irregularidades longe dos olhos dos eleitores. Há cinco meses, o Senado Federal está se submetendo a um processo de implosão com revelações de casos de nepotismo, tráfico de influência, mordomias e corrupção envolvendo parlamentares e funcionários. Restou evidente que, há anos, o templo da democracia abriga um gigantesco mausoléu de más práticas políticas que não condizem mais com a realidade de um país que mira um ponto mais alto na escala de civilidade. Além dos copeiros e ascensoristas, o Senado precisa urgentemente contratar um faxineiro para limpar as sujeiras da instituição.

O presidente do Congresso não parece ter saúde nem disposição para a missão, da qual declinou explicitamente em um discurso ao plenário. Desde que assumiu o cargo, em fevereiro, José Sarney tem sido diariamente confrontado com as mais variadas evidências de irregularidades, a maioria delas desencavada pelos repórteres da sucursal de Brasília do jornal O Estado de S. Paulo. Aos 79 anos, o ex-presidente da República está refém de suas próprias criações. A mais assustadora delas, o ex-diretor-geral Agaciel Maia, enriqueceu no posto chefiando uma administração paralela, clandestina, que usava para favorecer parentes, amigos seus e de parlamentares. Os atos clandestinos beneficiaram um mordomo, que recebia 12 000 reais de salário mensal do Senado, mas, por motivos óbvios, não trabalha lá, e sim na casa de Roseana Sarney, filha do senador Sarney. Por meios clandestinos também foi beneficiado outro membro do clã Sarney, João Fernando Gonçalves, neto do ex-presidente da República. Por fim, O Estado de S. Paulo revelou que José Adriano Sarney, também neto do senador, conseguiu uma autorização para negociar empréstimos consignados dentro do Senado. Segundo o rapaz, um economista de 29 anos de idade, sua empresa fatura perto de 5 milhões de reais ao ano.
Político há mais tempo em atividade no país, Sarney entronizou-se agora como símbolo do patrimonialismo, coronelismo e clientelismo que dominam a vida pública brasileira desde tempos imemoriais. Isso é justo com o velho patriarca, ex-presidente da República, o primeiro da era pós-ditadura militar, um homem afável e de vasta cultura, contrastante com a planície ágrafa que o cerca? Em política não existe justiça, mas perdedores e ganhadores. Os demais senadores, entre eles muitos que fazem a mesma coisa que Sarney, estão conseguindo que ele carregue sozinho nos ombros toda a culpa pelas escabrosas revelações das últimas semanas. Não por injustiça, mas por ver nele um perdedor do jogo político pré-eleição presidencial de 2010. Na semana passada, diante da pressão provocada pelas novas denúncias, Sarney criou o Portal da Transparência, com todos os dados de compras, nomeações e gastos do Senado. Os dados mostram, entre outras coisas, que o presidente tem uma legião de 120 funcionários à sua disposição. São ocupantes de cargos que estão subordinados diretamente a ele, que escolhe quem nomear e quando demitir. Entre eles há familiares, assessores que cuidam dos escritórios políticos de Sarney no Maranhão e no Amapá, administradores do Memorial José Sarney, em São Luís, parentes de lobistas, de magistrados e de correligionários, como a mulher e a filha do ex-senador Francisco Escórcio, um quebra-galho do grupo político do presidente do Senado, que já foi acusado de espionar senadores adversários durante o processo de cassação de Renan Calheiros.

Sarney tem biografia e nome para, a esta altura da vida, estar distante das refregas mais rasteiras do mundo político. Mas ele nunca quis, ou pôde, se afastar dos cargos que conferem poder de nomear e influir. Sem isso, Sarney torna-se presa fácil para seus não poucos adversários. Além dessa circunstância, vale a pena investigar, munidos apenas dos mecanismos da psicologia mais comezinha e da história, o que leva um político a essa situação. A resposta mais lógica, amparada na história, é a fronteira indefinida e fluida entre o público e o privado na vida nacional. Quando d. João VI se mudou com a corte de Lisboa para o Rio de Janeiro, em 1808, os nobres foram alojados nas melhores casas da cidade, das quais os donos foram sumariamente expulsos. Mas não eram eles os proprietários? Eram. Até que uma necessidade específica do estado os privou do que parecia um direito adquirido. Na mão oposta, são incontáveis os casos de altos funcionários do império e da república que se valeram de suas funções públicas para satisfazer suas necessidades particulares. Sarney é um herdeiro dessa mentalidade, com raríssimas exceções, prevalente no Brasil.
Senadores foram à tribuna pedir que ele se licenciasse ou até mesmo renunciasse. "Há um mês eu dizia: é melhor o presidente Sarney sair antes que seja obrigado a sair. Hoje eu repito: é bom que o presidente Sarney largue a presidência antes que sua presença fique insustentável. Ele tem de sair. Se ele renunciar, isso termina hoje", afirmou Pedro Simon, do PMDB gaúcho. O PSOL apresentará na quarta-feira um pedido de abertura de processo de cassação contra Sarney. No mesmo dia, PSDB e DEM se reúnem para decidir se também pedem sua saída. Até os funcionários de carreira começam a revelar descontentamento. Em entrevista a VEJA, o consultor-geral adjunto do Senado, Alexandre Guimarães, desabafou: "Tenho vergonha de trabalhar no Senado" (leia a entrevista abaixo).

Acuado pelas denúncias que envolvem a família, cobrado por aliados e emparedado por oposicionistas, o presidente subiu à tribuna para um pronunciamento que chamou atenção pela tibieza: "Eu julguei que, quando fui eleito presidente, era para presidir politicamente a Casa, e não para ficar submetido a procurar a despensa ou limpar o lixo das cozinhas da Casa". Depois disso, desapareceu. Em nota, disse apenas que é alvo de uma campanha "midiática" por apoiar o presidente Lula. Sarney se apoia em dois pilares para se manter no cargo. O primeiro é a conivência dos senadores. A auditoria feita nos atos secretos mostrou que 37 senadores se beneficiaram das decisões secretas. O outro pilar é o apoio de Lula. Há duas semanas, o presidente disse que Sarney merecia um tratamento diferenciado pela biografia que construiu. Na semana passada, Lula voltou a defendê-lo publicamente. Nesta semana reunirá a coordenação política do governo para discutir uma saída para a crise do aliado. O presidente considera que seu enfraquecimento dificultará o apoio do PMDB à candidatura de Dilma Rousseff. E não suporta a ideia de o Senado ser presidido por Marconi Perillo (PSDB-GO), primeiro vice-presidente, adversário ferrenho e um dos denunciantes do mensalão.
Qual será o desfecho da crise do Senado?
O metabolismo mais comum dessas situações em Brasília é deixar naufragar seu rosto mais em evidência, no caso o de José Sarney, e declarar de pronto que todos os problemas estão resolvidos. Na sexta-feira passada, era enorme a tentação de repetir essa manobra tantas vezes feita com sucesso no Planalto. Mas desta vez pode não dar certo. Se Sarney não tem como escapar da condenação de ser o símbolo do atual estado de coisas, ele tem todas as condições de mostrar que seu sacrifício é suficiente apenas para dar um ar de volta à normalidade ao que, com certeza, não é normal. Basta contar o que ele sabe. Com um Brasil que dá certo em todas as outras frentes, o bastante provável é que, quando se debruçarem sobre este ano do Senhor de 2009, os analistas no futuro vão descrevê-lo como aquele em que a política em Brasília deixou de ser nossa vanguarda do atraso.
"O Senado me envergonha"

Alexandre Guimarães, 38 anos, é funcionário concursado do Senado desde 2004. Chefe da consultoria legislativa, recebe mais de 20 000 reais por mês, entre salário e vários benefícios. Mesmo bem remunerado, pensa em deixar o emprego. Ele conta que não convive direito com os truques armados pelos parlamentares e funcionários da Casa.
Como você chegou ao Senado?
Prestei concurso em 2002 e entrei dois anos depois de uma maneira estranha, no que ficou conhecido como "o concurso dos 40 do Pedro Costa" (Pedro Pereira da Silva Costa é filho de um jornalista maranhense e trabalha com Sarney desde a Presidência da República). Eu fui o 19º colocado num concurso para preencher apenas três vagas. De repente, chamaram quarenta. Tudo isso, soube depois, apenas para que um amigo do presidente Sarney conseguisse um emprego no Senado.
Havia necessidade de contratar tanta gente nesse concurso?
No começo, não tinha nem mesa para trabalhar. Era constrangedor. Eu ia lá todo dia, assinava o ponto, ficava enrolando um pouco e voltava para casa sem fazer nada.
O senhor já foi beneficiado por algum desses esquemas que vêm sendo denunciados?
Eu consegui autorização do Senado para ultrapassar o limite legal de endividamento pelo crédito consignado. Antes de passar no concurso, também trabalhei com o senador Gilvam Borges (PMDB), no Amapá, até descobrir que meu salário era pago pelo Senado, embora trabalhasse em uma rádio do senador. Quando soube, saí de lá.
Os concursos do Senado são disputados por milhares de pessoas...
Não vou negar que ganho bem, mas isso também acaba sendo constrangedor. Para começo de conversa, são três ou quatro contracheques por mês. O meu vencimento básico é 6.411 reais. Mas há as horas extras, gratificações, comissões e outros penduricalhos. Somando tudo, dá um total de mais de 23.000 reais. Em alguns meses, o salário bruto ultrapassa o teto do funcionalismo público. (Alexandre recebeu neste mês 32.364,62 reais, incluindo a primeira parcela do 13º salário.) É um jeito que encontraram de pagar mais aos servidores, mas de maneira torta. Vim da iniciativa privada e nunca me acostumei com isso.
Você tem orgulho de ser funcionário do Senado?
Atualmente tenho vergonha. Tirei férias no início do mês e fui visitar uns parentes. Foi duro chegar para a família e tentar explicar a todo mundo que eu sou diferente dessa imagem do Senado. Em Brasília, não posso mais sair com os amigos, porque virei piada em mesa de bar. Hoje em dia, qualquer proposta me tira do Senado, porque o desgaste não compensa.
Qual é o clima de trabalho no Senado atualmente?
É péssimo. Os funcionários sérios estão constrangidos por ter sido jogados nessa vala comum. E os desonestos estão desesperados de medo de ser pegos. Conheço uma pessoa que passou em um concurso de nível médio e hoje tem três mansões em Brasília. Agora está em pânico para vender o patrimônio antes que descubram as irregularidades das quais participou. Como ele, há muitos que participam de esquemas de corrupção.
Fonte: Otávio Cabral (Veja) e Fabio Rodrigues Pozzebom (ABR)
Conta de mentiroso

O Senado Federal tem um dos mais altos orçamentos da República. Em 2008, a Casa consumiu dos cofres públicos - ou seja, do dinheiro de impostos pagos pelos brasileiros - R$ 2,7 bilhões. Só em salários e demais proventos para os dez mil funcionários foram cerca de R$ 2 bilhões.
Considerando-se que esse mar de recursos é gasto para justificar o trabalho dos 81 senadores, cada "excelência" custa ao contribuinte R$ 33 milhões ao ano. Mais grave é que não há a mínima transparência no uso desse dinheiro. No auge da crise que está sacudindo a Casa, foi revelada a existência de atos secretos para beneficiar parentes e gerar benefícios.
São decisões da Mesa Diretora que passam ao largo dos registros oficiais. Diante da denúncia sobre favorecimentos e mais de 250 nomeações irregulares, o primeiro secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), providenciou, em tempo recorde, a criação de uma comissão de sindicância. "Vamos ter todo o cuidado e a rigidez no sentido de apurar e punir os culpados", garantiu.
Com uma agilidade de fazer inveja à contagem de votos na eleição do Irã, a comissão distribuiu um relatório com 663 atos secretos, envolvendo 37 senadores. Tudo indicava que o Senado finalmente havia se rendido à necessidade de jogar luz sobre seus atos. Mas não foi dessa vez. O resultado é tão confiável quanto o do pleito iraniano. Diretores da Casa informaram à ISTOÉ que houve uma providencial triagem na divulgação dos atos secretos, cujo total chegaria a 1.400.
Heráclito teria divulgado apenas os atos administrativos. Entre as outras decisões, haveria despesas de R$ 700 mil autorizadas por ele mesmo entre 2005 e 2006, quando presidia o Grupo Brasileiro de União Interparlamentar. Portanto, Heráclito administrou uma meia transparência e torna-se, agora, um protagonista no escândalo. Heráclito nega que a lista de atos secretos seja maior do que a divulgada. "isso é uma molecagem, não assinei nenhum ato secreto. está cheio de casca de banana por aí", disse.
Na verdade, não interessa às "nobres excelências" abrir a caixa-preta do Senado. Afinal, a bilionária estrutura da Casa foi montada justamente para beneficiálos. Em 2008, por exemplo, os gastos com passagens aéreas somaram R$ 19 milhões, fortuna capaz de financiar várias voltas ao mundo. As diárias no País e no Exterior totalizaram R$ 1,3 milhão.
Outro dado que impressiona ao mergulhar sobre o Orçamento executado no ano passado é o total de dinheiro liberado para serviços médicos hospitalares e odontológicos: R$ 59 milhões. Há gastos individuais de senadores e respectivos parentes que ultrapassam meio milhão de reais. Trata-se de um descolamento total da realidade do brasileiro que precisa amargar horas na fila para tentar ser atendido.
E, em muitos casos, não conseguir. Os filhos dos parlamentares e assessores de gabinete também podem se dar ao luxo de dispensar o serviço de babá. Apenas para auxílio-creche foram repassados R$ 3,3 milhões. Em festividades e homenagens, que não têm outra função senão gerar dividendos políticos para os próprios senadores, o Senado torrou R$ 440 mil. Tanto dinheiro seria motivo mesmo de festa.
Também é de espantar o tamanho da folha salarial da Casa, chamada de "mãe" por parlamentares devido à generosidade na concessão de gratificações e horas extras. Só nos últimos seis anos, o Senado consumiu R$ 1,5 bilhão nas chamadas gratificações por exercício de função.
O valor é 50% maior do que os recursos destinados pelo governo ao programa Minha Casa, Minha Vida para construção de moradias. Para piorar ainda mais, os nossos senadores dão fartas demonstrações que continuam a confundir o público com o privado.

Por exemplo, o senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) usou parte da sua verba indenizatória para pagar serviços de segurança privada na Casa da Dinda, sua residência particular situada à beira do Lago Paranoá, que ficou famosa em 1992 pela suntuosidade durante o processo de impeachment. Gastou mais de R$ 10 mil dos R$ 15 mil a que tem direito com a empresa Cintel Service.
Collor alegou que a questão da segurança faz parte do apoio ao seu mandato parlamentar. Já o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), que chegou a ter oito parentes lotados no Senado, empregou dois funcionários ligados à Fundação José Sarney, sediada em São Luís. Um deles trabalha no gabinete do senador Lobão Filho (PMDB-MA), com vencimentos de R$ 7,6 mil, e o outro ocupou cargo na liderança do governo. "Ele faz um trabalho político para mim no Maranhão. Se o Sarney me pedisse, eu o liberava para a fundação", disse Lobão Filho.
Na verdade todos se locupletam com dinheiro que deveria ser aplicado em benefício público. São uma espécie de acionistas de um suposto Senado S/A. Um dos atos secretos da Mesa Diretora em 2005 elevou a verba indenizatória de R$ 12 mil para R$ 15 mil ao mês. O dinheiro deveria ser restrito ao exercício parlamentar, mas há registros de gastos abusivos com ligações telefônicas, restaurantes luxuosos e viagens de jatinhos.
O campeão de gastos com telefones, em maio, foi o senador Delcídio Amaral (PT-MS), que cobrou um reembolso de R$ 5.606. Ele explica que viaja muito pelo interior de seu Estado e usa o celular para monitorar suas atividades parlamentares. Destaque no quesito luxo, o senador Adelmir Santana (DEM -DF) declarou gasto de R$ 546 no Fasano, um dos mais luxuosos restaurantes de São Paulo. Collor, de novo, gastou R$ 3.240 no restaurante Boka Loka, situado no Paranoá, periferia de Brasília.
O local é utilizado para refeições de assessores do senador e do próprio Collor. "Qual é o problema? Só posso comer no Piantella?", reage. A prestação de contas do deputado ACM Júnior (DEM-BA) mostra pagamentos de R$ 8 mil à empresa de táxi aéreo Abaeté. Sua justificativa foi banal: "Essa é a única empresa regular que faz o serviço na Bahia." O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) investiu parte de sua verba no mesmo ramo. Pagou R$ 7,5 mil à empresa Rima Aerotáxi.

O senador Efraim Morais (DEM-PB), que já ocupou o cobiçado cargo, é acusado de ter montado uma máquina política com 52 funcionários fantasmas. Mas no centro do escândalo está José Sarney e sua família. Na semana passada, o senador foi atingido por um verdadeiro petardo.

O jornal O Estado de S. Paulo divulgou que seu neto José Adriano Cordeiro Sarney é sócio de uma corretora que opera crédito consignado na Casa. Desde 2007, ele intermedia empréstimos com desconto em folha para servidores. O negócio que já movimentou R$ 26,9 milhões só no banco HSBC está sob investigação. A denúncia levou o senador Pedro Simon (PMDB-RS) a subir à tribuna para pedir a cabeça de Sarney.
"O presidente Sarney tem que se afastar. Deve se afastar desse processo para o bem dele, da família, da sua história e do Senado. É melhor deixar a presidência antes que a situação fique totalmente insustentável", bradou. Sarney saiu em defesa do neto, mas não esconde seu abatimento. Dizse vítima de "uma campanha midiática" porque apoia o presidente Lula e garante que não vai renunciar nem se licenciar da Presidência do Senado.
A crise, portanto, está longe do fim. E o Senado Federal sangra em praça pública, cada vez mais desgastado. "O Brasil precisa de homens públicos que observem a legislação da coisa pública. Precisa-se de seriedade e de propósito", afirma o ministro do STF Marco Aurélio de Mello, exprimindo uma preocupação de todo o País.

Fonte: Octávio Costa e Sérgio Pardellas (IstoÉ - colaborou Adriana Nicacio) - Fotos, Imagens e Gráficos: Agência IstoÉ