10 março 2007

O CASO JOÃO HÉLIO E A MÍDIA

O brutal assassinato do menino João Hélio Fernandes Vieites mostrou mais uma vez a maneira ambígua como a mídia trata as vítimas e algozes nestes casos. Sempre sensacionalista, superficial e tendenciosa (cada uma quer impor seu ponto de vista: penas mais duras, revisão da maioridade penal, culpar a sociedade, etc.), a mídia corre desesperadamente em busca de atrair simpatia para "soluções mirabolantes" sem levar a fundo esse debate. A cada novo caso, cria-se nova comoção e logo em seguida a tragédia some do noticiário.

Interessante lembrar que casos como o da morte do menino Renan Ribeiro não teve tratamento semelhante. Renan, que tinha 3 anos e morava na Favela da Maré, levou um tiro de fuzil na barriga no dia 1º de outubro do ano passado. Para quem não sabe o estrago causado por um tiro de fuzil no corpo humano é de 50 vezes o diâmetro do projétil. No dia seguinte, a mídia aceitou a versão policial e jogou a conta nessa entidade chamada "bala perdida", embora houvesse pelo menos uma centena de testemunhas garantindo que o tiro viera de um policial [veja aqui matéria sobre o caso]. Nenhum jornalista visitou o quarto de Renan ou procurou ouvir seus parentes e amigos; ninguém descreveu seu dia-a-dia ou detalhou se gostava de brincar de bola ou de carrinho, como fizeram com João Hélio.

Outra comparação pode ser feita a partir do caso Pimenta Neves. O jornalista, ex-diretor de Redação do Estado de S.Paulo, foi preso por matar a namorada pelas costas. É réu confesso. E nem por isso ele foi agredido fisicamente pelos profissionais da mídia grande que atacaram, no dia 13 de fevereiro, os acusados de terem matado João Hélio.

Impõem-se soluções viáveis para prazo curtíssimo. De discursos vazios estamos cansados. A sociedade vem a muito anestesiada pela sucessão de crimes e falcatruas que acontecem neste país. Apenas desperta quando a mídia a bombardeia com dias seguidos de exposição de um caso. A população brasileira não tem poder de mobilização, é notório. Daí a tranqüilidade do presidente em culpar administrações passadas pelo caos do país, esquecendo-se que o primeiro mandato dele já faz parte desse passado.

Que se abram discussões com seriedade, que permaneçam em evidência até que soluções satisfatórias sejam encontradas e colocadas em prática. Que haja a mesma agilidade que há na discussão de aumentos salariais para os parlamentares e na expedição de habeas-corpus para réus confessos. Enfim, como nos é exigido em qualquer trabalho, queremos resultados.

Fontes de apoio: Jornal de Debates - Marcelo Salles e Henrique Abel

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