11 julho 2006

São Paulo sitiada

Retrato da polícia paulista: literalmente naufragando

Originalmente escrita em abril de 2.003.

O título desta matéria representa fielmente o que se passa na cidade e no estado de São Paulo. Porém, foi colocado intencionalmente numa alusão ao filme “Nova York Sitiada”.

A razão? É que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, resolveu dar um basta na onda de violência a golpes de marquetagem. Seguindo o exemplo de seu companheiro de partido, o presidente Fernando Henrique Cardoso, que por três vezes lançou o “Plano Nacional de Segurança”, até hoje não implementado, Alckmin acaba de anunciar o “São Paulo contra o Crime”, título inspirado no seriado americano “Nova York contra o Crime”.
Para derrotar os criminosos, foram contratados como especialistas no assunto o publicitário Nizan Guanaes e o conselheiro do FHC, o sociólogo Antônio Lavareda.

Já em operação desde o dia 1º de março, presenciamos, logo de início, desfiles de novos carros de polícia percorrendo a cidade em comboio com as sirenes ligadas. Pelo jeito gostaram tanto que as viaturas que já estavam em operação também estão usando do mesmo artifício para convencer a população de que estão fazendo algo pela nossa segurança. Seria muito louvável se essa compra de mais viaturas propiciasse um patrulhamento ostensivo e preventivo, mas na verdade apenas um policial as conduz ou fica com elas estacionado em algum ponto da cidade, não podendo atender às solicitações da população por exatamente estar sozinho e não ter permissão para deixar o carro.
A ineficiência da polícia paulista – militar e civil – é veementemente negada pelo governador, assim como a existência de uma “banda podre” dentro das corporações. Na realidade, o que se vê é um predomínio de maus policiais que, em 450 processos levantados pelos promotores públicos do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), tiveram a corrupção policial provada em 70% dos casos. Como exemplo bastante visível à todos, basta ver que,quando algum marginal é capturado, sempre há policiais em suas quadrilhas.

Fatos lamentáveis corroboram a crítica: a natureza dos crimes está sendo modificada nos boletins de ocorrência. Assassinatos já foram registrados como incêndio, encontro de cadáver, morte a esclarecer e até chacina com três mortos foi computada como sendo apenas um homicídio, uma maneira muito fácil de baixar os índices da violência ou, como no caso da libertação do publicitário Washington Olivetto, atribuir à Polícia Militar ou à Polícia Civil de São Paulo a sua soltura, quando na verdade ele foi salvo por uma cidadã comum, que desconfiou e denunciou.
Aliás, como de sempre em sempre, as autoridades só se mobilizam quando uma “personalidade” é vítima da violência. A grande repercussão que a mídia proporciona, movimenta freneticamente todo o aparato de segurança disponível para mostrar eficiência à população inebriada por essa mesma mídia, que esquece-se de fazer jornalismo e parte para a espetacularização da notícia, levando todos, dos mais simples às “autoridades”, a iniciarem seus discursos saídos do fígado, pedindo pena de morte, Rota na rua, aumento das penas e outras sandices mais.

Esse discurso, prato cheio para a ultra-conservadora classe média paulista, malufista em sua essência, contamina até membros da chamada esquerda, como o deputado José Genoíno, ávido em conseguir votos aproveitando-se da morte do colega de partido, o prefeito de Santo André Celso Daniel. Todos clamam por justiça (vingança), vestem-se de branco pela paz, fazem suas passeatas de dois quilômetros por vias seguras e depois recolhem-se atrás de suas casas muito bem fortificadas com fios eletrificados ou dentro de seus carros com blindagem de 50 mil reais.

Esgotado o assunto na mídia, volta-se a rotina de dez mil assassinatos por ano, tudo isso visto como um dado estatístico, já que os mortos em sua maioria fazem parte da ralé, aquela gente fadada a sua triste sina de abandono.

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